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Conexidade: em busca de futuros possíveis a partir de redes reais

28/08/2018

Conexidade: em busca de futuros possíveis a partir de redes reais

Um processo criativo coletivo de dez artistas com formações e experiências distintas e diversas, em uma residência imersiva de 120 dias, para a criação de uma ocupação inovadora de uma região da cidade do Rio de Janeiro. Essa é a essência do projeto Conexidade, desenvolvido com apoio da Oi e do Oi Futuro, viabilizado pela lei de incentivo à cultura através da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro e idealizado pela Rio de Negócios.

O pontapé inicial foi dado nesta segunda-feira, em evento de lançamento para uma plateia de mil pessoas que lotaram o teatro Oi Casagrande para assistir a uma conversa-show entre o músico Gilberto Gil e o pesquisador em direito e tecnologia Ronaldo Lemos. A abertura do Conexidade ainda contou com um painel sobre inovação, arte, criatividade e tecnologia como inspiração na construção de cidades mais sustentáveis e com uma apresentação da cantora Larissa Luz. A partir desta terça-feira, 28 de agosto, terá início a residência artística do grupo no Lab Oi Futuro, que só terminará com a apresentação do trabalho coletivo final nos dias 1 e 2 de dezembro, na Praça XV, centro do Rio.

Mas o Conexidade promete ser muito mais. Vai em busca de futuros possíveis a partir de uma criação intensiva com trocas e redes reais, como explicou o diretor artístico e curador do projeto, Batman Zavarese, nesta entrevista ao Oi Futuro. “Vamos desconstruir alguns padrões para enxergar o mundo atual num estado de suspensão. Para trazer novas formas de aprender e ensinar, falar e escutar. Em redes que vão muito além de um like ou de um compartilhar, a partir de processos conhecidos e novos. Resgatar a desgastada inovação numa outra sintonia”, definiu. A seguir, confira a entrevista:

O que é o Conexidade?  

ZAVARESE – O Conexidade é um festival que investe no processo, na construção que não é só de técnicas, nem só criativa, que busca enxergar o mundo atual num estado de suspensão. Quatro meses, dez artistas trabalhando, fazendo trocas que individualmente não conseguiriam realizar porque não teriam os outros nove para dar sua contribuição. Uma chance histórica. Conexidade estará ali também formando essas pessoas num método que não é linear de aprender. Fazendo, aprendendo, errando, remodelando, reprocessando, mas com um foco de realização. Essa turma está sendo preparada para pesquisar, aprofundar, mas também com prazos e entregas para um festival.

Qual é o perfil desses dez artistas residentes do Conexidade?      

ZAVARESE – São pessoas que eu miro ou observo nos últimos anos em seus trabalhos individuais ou que já passaram por residências em que eu estava envolvido. Outros eu conhecia de trabalhos grandiosos ou até muito singelos e únicos. Tem gente com experiência para aguentar pressão de um público de 50 mil pessoas e gente que aguenta um público de 100 pessoas. É um grupo que tem essa complementariedade técnica e até emocional. Tem essas somas ali. Para o momento em que alguém demonstrar fragilidade ou insegurança, tem outro que naquele ponto vai trazer uma fala de conforto e de direção. Mesmo a minha direção artística passa por uma certa invisibilidade para entender onde tem os brilhos de cada um, para eles se revelarem. Temos um problema e juntos vamos transformar em solução e é assim que surgem caminhos que a gente nem imagina que são possíveis.

Eles já trabalharam juntos? O que eles têm em comum?

ZAVARESE – Não, eles nunca criaram juntos. São perfis muitos diversos, com habilidades muito específicas e parâmetros diferentes de criação. Para um é o código, para outro é o desenho, outro domina softwares de edição, outro usa design gráfico. É uma mistura, uma soma de possibilidades. Em comum eles têm uma personalidade forte e aceitaram tocar um trabalho colaborativo e coletivo sem um nome assinando. A assinatura será no mínimo de três deles e no máximo, de dez. Vamos provocar essa sensação de desequilíbrio. Estamos num mundo muito padronizado, encapsulado em padrões de comunicar, criar narrativas e emocionar. Vamos produzir uma dinâmica mais tensa e quando você não sabe como isso será desenvolvido tem uma certa sofrência ali necessária para quem trabalha com criatividade. Todo mundo que está entrando ali sabe que tem uma força do que pode vir a acontecer através de um trabalho coletivo.

E como será esse processo criativo? Houve um briefing inicial ou é uma página em branco?

ZAVARESE – Todos sabem das linguagens que poderão ser usadas e do desejo de se criar uma instalação, uma experiência que tenha um acesso muito facilitado com o outro. A gente não precisa construir uma peça que só um cara que estuda arte consiga entender. A gente tem que criar uma peça como um celular, um produto que desde a pessoa mais humilde à mais sofisticada sabe como operar. Temos o desafio de falar para muitos. Mas não quero dizer: vamos fazer um mapping em dez prédios ou um filme de narrativa imersiva. Isso vai surgir naturalmente, entre eles e com os convidados que virão falar para eles no laboratório durante a residência. Meu papel e de quem estiver nos bastidores será o de conectar, sobrepor e apontar caminhos. A gente vai vendo os desvios e indisciplinas, quando você encontra o desconhecido ele é bem vindo, mas com dosagens certas para chegar àquele objetivo de construção.

O Conexidade abre precedente para outros festivais investirem mais em seus processos criativos?

ZAVARESE – A gente hoje vive essa cultura das coisas que tem que acontecer para ontem, mas eu adoraria que a gente passasse a olhar com o mesmo carinho para o processo como olhamos para o resultado. Isso só é possível se houver continuidade. Inovação é uma palavra que está na tagline de qualquer empresa, grupo de trabalho ou de criativos. Mas hoje para fazer inovação de verdade e real você tem que investir no processo. Todo mundo te dá ofertas criativas mirabolantes. E é claro que não podemos ignorar a avalanche de influências que recebemos ou onde esbarramos todos os dias, mas esse grupo aqui vai ter que saber reprocessar e achar um caminho para futuros possíveis e mais reais.

Você vê o Conexidade como uma grande rede?

ZAVARESE – Olha, a rede para mim é uma questão como a da inovação. Para você capturar as pessoas, fazer com que elas sentem numa roda é preciso que tenha escuta, reflexão e aprofundamento. Você não faz uma rede sem esse tipo de diálogo. Você não tem uma rede só porque deu um like ou porque superficialmente sinaliza ter compartilhado algum conteúdo. E hoje você ainda pode pagar para ter um like ou um engajamento nessas plataformas. Rede é uma coisa que você precisa construir de forma muito cuidadosa e com muito carinho, porque depois que você dá a mão as pessoas não vão mais largar a sua mão. É uma questão de criar vínculos, cuidar. Essas memórias afetivas ficam ali, impregnadas. Montei uma estrutura em que todos vão passar por instabilidades estéticas, emocionais, técnicas, mas sabendo que alguém ali vai dar um abraço, um conforto, numa rede de afetos.

E quais são os futuros possíveis?

ZAVARESE – Eles não estão nessa realidade que estamos vivendo hoje, onde a gente está muito refém de entregas, prazos. Temos que trabalhar com mais imaginação, inventar mais possibilidades, olhares e para isso a gente tem que passar por erros, por sonhos, por mais tentativas. Pode parecer um discurso romântico, mas isso precisa estar plantado em sementes, em partículas do que a gente está fazendo para continuar caminhando. Hoje futuros possíveis passam diretamente por um ambiente mais horizontalizado, mais colaborativo, com mais escutas e um olhar de uma outra maneira. O Conexidade tem um potencial grande em relação a isso. Poderá ser compartilhado nessa plataforma que está sendo montada para ser muito mais do que um like. Abrindo os códigos verdadeiramente para entregar conhecimento e receber aquilo que desconhecemos, que não sabemos. Essa é minha missão: reinventar um modelo, um festival que olha com cuidado o processo e não só o que vai estar lá no final. Isso é potente e muito mais sonhador.

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