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ENTREVISTA: XICO CHAVES

11/09/2012

ENTREVISTA: XICO CHAVES

Foi em Minas que comecei a escrever, pintar e experimentar. Foi onde passei toda a minha infância e também o principal lugar onde recolho e pesquiso os pigmentos naturais. Foi ainda em Minas que refleti pela primeira vez sobre a expansão da matéria pelo espaço cósmico e associei tudo isso à vida e à criação”.

Poeta, letrista, artista plástico, produtor cultural, pesquisador, jornalista. Esse é Xico Chaves, que chega ao Oi Futuro Belo Horizonte com sua exposição “Órbita Poética”.

Batemos um papo com Xico para conhecer um pouco mais desse universo onde pulsam poéticas e experimentalismo.

OF. Você foi um dos primeiros artistas brasileiros a trabalhar diversas mídias simultaneamente, transitando entre as artes visuais, a poesia e a música. Como tudo isso começou?

XC. Desde que comecei a escrever poesia e a experimentar a linguagem poética, ainda na adolescência, percebi que o desenho, a pintura, as artes gráficas, a letra de música e expressão oral faziam parte de uma só forma de comunicação. O exercício destas atividades veio de forma espontânea, sem muita intenção de publicar ou expor. Venho de uma família de poetas, músicos, professores pioneiros em modelos educacionais e creio que este fato estimulou-me a dar continuidade ao que vinha criando e à medida que me interessava por artes fui incorporando simultaneamente estas e outras linguagens com as quais mantinha contato, como a fotografia, os quadrinhos, as artes cênicas, o vídeo…não tive portanto a intenção de formular um conceito que me levasse  a um projeto de integração destas formas de expressão. Devido a isto adquiri liberdade para exercer uma atividade artística que se apropria e processa diversas formas sem a obrigação de fazer desta simultâneidade um só objeto. Há momentos que parecem formar um só corpo e outros em que se apresentam de formas diversas.

OF. Suas obras fazem parte de coleções importantes como as do Museu de Arte Contemporânea de São Paulo e o Museu Nacional de Belas Artes. Tem ideia de quantas exposições já realizou? Pode destacar as mais importantes?

XC. As obras que tenho em museus são mais relacionadas à pintura com minerais e pigmentos naturais, que comecei a mostrar a partir da década de 1980, quando participei da exposição “ Como vai você geração 80” na EAV-Parque Lage. Como meu trabalho de pintura é referenciado em uma pesquisa e um processo poético que segue um determinado roteiro, uma narrativa própria, cada exposição é referente a estes momentos. Objetos e instalações, performance e intervenções, também fizeram parte destas mostras assim como textos e experimentações. Participei também de exposições com trabalhos mais voltados para a produção poética contemporânea, com livros-objeto, objetos intercalares, projeções e performances. Foram muitas exposições individuais e coletivas no Brasil e algumas no exterior, tenho que recorrer ao currículo, aproximadamente 50 exposições. Dentre elas posso destacar “Luzz”, “Nova Matéria”, “Infinitos”,”Limites”, “Arqueoplanos”, “Fragmentos Intercalares”, “Lumens” e diversas coletivas importantes com artistas de todas as tendências e linguagens, como Geração 80, “obranome”, “monocromática”, “poesia imágica”, “ Salão Preto e Branco/90”, “aberto brasília”, “palavreiro”, são muitas.

OF. Fale um pouco sobre suas incursões na MPB, com músicos como Jards Macalé, Elza Maria, Zé Renato, Claudio Nucci, Roberto Menescal, entre outros.

XC. Comecei a escrever letras de música ao mesmo tempo que  poemas, ainda no colégio, com um parceiro e colega de classe. Participávamos de um programa de rádio semanal sobre artes e começamos a fazer música para festivais, quando fomos premiados e tivemos as primeiras gravações. Na universidade de Brasília continuei escrevendo letras e alguns jingles para publicidade.Quando vim para o Rio reunia em casa, em Santa Tereza, músicos de diversas tendências e conversávamos sobre música brasileira, movimentos de arte e organizávamos apresentações alternativas em espaços diversos e naturalmente as composições iam surgindo. Estes shows reuniam artistas de diversas gerações, no Teatro Gil Vicente, na Casa do Estudante Universitário, Colégio Divina Providência, Parque Lage, MAM, Morro da Urca…em um momento em que não havia espaços profissionais disponíveis, a ditadura pesava sobre a liberdade de expressão, enfim, um perído difícil para a produção artística. Também era um momento propício para experimentações e alternativas. Gradativamente fui conhecendo e compondo com os músicos que frequentavam este circuito, que mesclava auto-produção, movimentos e criação, até que começou-se a profissonalizar esta atuação e as gravadoras começaram a se interessar por estes artistas. Alguns já eram conhecidos, mas estavam marginalizados pela mídia daquele momento, havia um estado de frustração intenso, mas havia também uma luta de resistência. Com os primeiros ares da reabertura democrática os espaços foram se abrindo, as produções independentes foram abrindo caminho para as gravadoras, a produção artística emergiu repentinamente e uma nova mpb tornou-se presente em todos os lugares, mesclando tradição e pop brasileiro, o “rock brasil” já mostrava sua cara. Esta passagem dos anos 70 para os anos 80 foi muito rica e sinalizou a música brasileira que está aí até hoje. Ao mesmo tempo que consolidava meu trabalho de artes visuais, apresentava programa de tv, editava meus livros, trabalhava em produção e direção artística, realizava projetos em instituições e experimentava linguagens poéticas e visuais.

OF. O que espera desta exposição no Oi Futuro Belo Horizonte?  São as mesmas obras expostas no Oi Futuro Flamengo, há cerca de um ano?

XC. A exposição de Belo Horizonte terá os mesmos módulos da Oi Futuro Flamengo. Obedece a uma concepção do curador Alberto Saraiva junto a mim e à Fase 10, que produziu a primeira instalação. No entanto a montagem de BH tem maiores possibilidades de se expandir dentro do espaço arquitetônico. È uma mostra que reúne memória, poéticas audio-visuais contemporâneas e imagens de obras associadas a um espaço imersivo cósmico onde objetos, pinturas e fragmentos poéticos flutuam e viajam, por meio de projeções, pelo cosmos, como se fossem mensagens meteóricas se propagando infinitamente, envolvidas por uma sonoridade eletro-acústica. A criação deste espaço foi  realizada  com a participação do grupo de jovens da Oi Kabum! Ipanema e do músico e artista sonoro Aurélio Dias. Uma exposição como esta, que utiliza recursos tecnológicos digitais é sempre um trabalho de equipe. A exposição segue algumas trilhas de minha trajetória, que se associam para constituir um único panorama, não é uma retrospectiva, mas incorpora diversos instantes do meu trabalho, de forma a evidenciar uma determinada leitura única, uma  parceria entre o artista e  curador.  Apresentar este trabalho em BH é muito significativo para mim, por diversas e diversas razões. Foi em Minas que comecei a escrever, pintar e experimentar, foi onde passei toda a minha infância, é também o principal lugar onde  recolho e pesquiso os pigmentos naturais. Foi ainda em Minas que refleti pela primeira vez sobre a expanção da matéria pelo espaço cósmico e associei tudo isso à vida e à criação.

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