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MAKURU: Muito além do teatro infantil

30/06/2017

MAKURU: Muito além do teatro infantil

Em um bate-papo com José Mauro Brant e Tim Rescala, principais nomes por trás do musical infantil MAKURU, uma pensata sobre memória afetiva, valorização da cultura popular, construção da identidade e a não-subestimação do público infantil.

Em cartaz no Centro Cultural Oi Futuro, “Makuru – Um Musical de Ninar”, parte para a segunda semana de exibição convidando plateias de todas as idades a ouvir e pensar sobre as cantigas de ninar. Depois de duas parcerias de sucesso com as premiadas montagens “Era uma vez… Grimm!” e “O pequeno Zacarias”, José Mauro Brant, autor e diretor, e Tim Rescala, diretor musical e arranjador da peça, evocam imagens poéticas a partir de um pequeno núcleo familiar: o pai, vivido por Brant; a mãe, Ester Elias; a avó, Janaína Azevedo; e a babá Bartira, vivida por Lilian Valeska se veem às voltas com o desafio de adormecer uma criança – o menino Makuru. A família não sabe, porém, que em cima do telhado vivem seres estranhos que dificultam este processo: a Murucututu, a Tutu e o João Pestana. Juntos, os seres mágicos tentam a todo custo serem lembrados pela família para escaparem do esquecimento.

trTim Rescala e José Mauro Brant

Reunimos a dupla no estúdio do Tim, na Glória, para um bate-papo sobre a peça e você confere a íntegra do papo a seguir:

Oi Futuro – Como surgiu a ideia de montar o musical?
JMB – O “Makuru” veio da vontade de retomar o que era essencial para mim, que estava ligado à minha história toda de vida. E, apesar de falar das cantigas de ninar, ele se liberta desse tema. Por que as pessoas têm medo desses elementos de cultura popular? Por que eles despertam tantas paixões e há tanto tempo? Então, tem esse olhar para frente para que as pessoas pensem e se conciliem com esse material porque ele faz parte da nossa identidade.

Oi Futuro – Identidade essa que muitas vezes nós não sabemos, certo? É uma proposta também de apresentar essas figuras da peça, Tutu, João Pestana, Murucututu para o público?
TR – Em certas regiões do Brasil as pessoas conhecem mais, né, Zé?
JMB – Sim, o João Pestana é uma licença poética que é realmente o estrangeiro que veio para cá e que no final das contas fica lá esquecido no telhado, meio inspirado no Jardim das Cerejeiras, do Tchecov, em que o mordomo fica ali esquecido naquela casa. Tem uma coisa leve, brinca com a situação do imigrante hoje em dia. Assim como a Tutu é transgênero, sem sexo definido, um ser imaginário e a coruja Murucututu que é a terceira idade, é um velho, ancestral, o avô, essa figura que está aí há gerações olhando ali da árvore.. A Murucututu no Norte existe mesmo, ela é bem lembrada, e as pesquisas mostram que nos acalantos mais antigos brasileiros ela já aparece como uma amiga que empresta o sono e ao longo da história foi entrando no hall dos vilões. O que se fala no Norte é “Sai, Murucututu de cima do telhado, deixa o meu filho dormir o sono sossegado!” e ela entra nessa galeria assustadora, mas na peça a gente quer redimir ela, mostrar que ela é boazinha, é a dona do sono.

Oi Futuro – E qual a importância da existência desse espetáculo?
JMB – É um espetáculo musical de nível adulto que respeita a inteligência da criança, que resgata assuntos esquecidos de uma forma contemporânea e apontando com a possibilidade de uma reconciliação da gente com a nossa cultura.

Oi Futuro – E a escolha do repertório, Tim? Como foi a criação das músicas? Tem uma principal que é o fio condutor do espetáculo?
TR – Eu não diria que tem uma música principal. Quando o Zé me procura o espetáculo já está alinhavado e mesmo não tendo um final já sei qual é o perfil. A partir do momento que isso está claro eu faço. Mas é desafiador sempre, e é isso que faz o trabalho estimulante: fazer uma coisa nova. É um universo de cantigas de ninar que em tese é muito simples, mas o que a gente apresenta é um resultado do trabalho em quatro vozes, a parte estritamente musical com um trabalho mais rebuscado.
JMB – Todas as músicas têm como base esse coral a quatro vozes, que é muito sofisticado, o Tim tem uma sabedoria de para quem ele está escrevendo, saber a extensão para cada um e no tom que brilha para cada um. Nada está ali por acaso. Eu, por exemplo, faço dois personagens, quando canto no pai trabalho uma região vocal, quando é o João Pestana é outra.

Oi Futuro – No fim das contas é uma peça para todo mundo, não é mesmo?
JMB – No final das contas é uma peça sobre lembrar, lembras as canções, lembrar as pessoas que nos acalentaram, lembrar os nossos momentos de angústia e solidão noturna, lembrar dos nossos momentos de felicidades, dos nossos filhos, sobrinhos e avós. Trabalhar com essas pessoas sobre a questão da memória acaba unindo todo mundo de forma mais afetuosa, porque não faltavam nos nossos ensaios lembranças afetuosas dos atores, e por isso ele ficou muito afetuoso. No fim, é o sobre o amor.

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