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Artigo: Novas abordagens educativas nos museus

21/09/2018

Artigo: Novas abordagens educativas nos museus

Por Bruna Cruz* 

“Os melhores museus têm hoje procurado explorar todo o seu potencial em prol da sociedade e são muito mais do que apenas prédios e coleções. Os melhores museus são norteados pelas suas comunidades e sabem como trazer melhorias para a região em que ficam sediados e a vida dos seus moradores.” (Museums Change Lives – Museums Association)

Atuar em problemas contemporâneos faz com que os museus assumam papéis mais preponderantes diante da sociedade. Em momentos de crise do setor cultural e, especialmente, do campo museológico, é tempo de dar protagonismo aos públicos dos museus. Tempo de escutar a sociedade, para atrair confiança em todos que atuam campo museal. Tempo de confrontar lógicas de descontinuidade com práticas de continuidade, por meio de encontros que favoreçam o estabelecimento de ‘diálogos reais’, onde haja partilha, mobilização e comunhão autênticas, reconhecendo no cidadão sua capacidade de solução artística e criativa. E onde, em ultima instância, admita o “visitante comum” como produtor de conhecimento e agente impulsionador da experiência de excelência dos museus.

Museus representam a memória de cidades, regiões e países. Incorporam a identidade de um povo, conectando diferentes gerações e culturas. Por isso, são locais de conhecimento, de reconhecimento, de encontros, de discussão e do fazer. Museus devem ser espaços de comunicação entre os mais variados grupos.

O Museu das Telecomunicações faz conexões entre a cidade e seu público e, por meio de sua coleção e do Programa Educativo, tem o compromisso de ser a “representação” da cidade conectada. As coleções, indícios do passado, podem indicar soluções criativas para o futuro. A memória pode ser a perfeita aliada para o autoconhecimento e transformação humana. No caso de nosso museu, um acervo com mais de 100 mil itens dialoga diretamente com a cidade e a população. O serviço de telecomunicações, encurta distâncias, aproxima pessoas, suaviza saudades… Instaura uma nova forma de sociabilidade, principalmente, com a chegada da telefonia celular.

Mas, como todos os museus, sem exceção, podem estabelecer conexões com o público para além da contemplação do acervo e do prédio? Para nós, este é o desafio mais constante e inquietante. A atuação do Programa Educativo do Museu das Telecomunicações busca ajudar as pessoas a avançar em sua autoestima e bem-estar, estabelecendo redes de apoio, relacionando-se como “par” com suas comunidades. Realizamos ação de troca importante através do Programa Continuado, que tem como característica relevante às atividades extramuros. Ou seja, para além de receber os parceiros no Museu, somos recebidos em suas instituições, em suas “casas”, estreitando, assim, os laços de empatia, afeto e convivência.

Para promover ainda mais reflexões e ações que contribuam, efetivamente, com as necessidades de cada parceiro do Programa Educativo do Museu das Telecomunicações, criamos o tema “Acessibilidades e Transversalidade – Redes e Conexões”, respondendo a questões suscitadas junto aos públicos de instituições especializadas no atendimento à pessoas com deficiências e de projetos voltados para inclusão e cidadania. O primeiro passo para colocarmos em ação, foi circularmos, de fato, pela cidade e percebê-la em todas as suas variantes, sendo importante ressaltar que a maioria dos profissionais do museu residem em áreas periféricas. O que amplia em muito a visão do grupo, uma vez que o Museu das Telecomunicações fica situado na zona sul da cidade do Rio de Janeiro. A partir de uma “visão global”, levantamos dados e entendemos os diversos “cenários” da urbe. Por fim, listamos parceiros para desenvolver ações específicas.

Podemos citar como exemplos emblemáticos a relação estabelecida com a Unidade de Responsabilidade Social da Ilha do Governador, com o perfil de atendimento a adultos de 18 a 59 anos e hoje abrigando 96 pessoas – sendo 52 homens e 46 mulheres. Pessoas com histórico de abandono familiar, violência doméstica, dependência química, transtorno mental, refugiados e oriundas de outros estados. Ou com a Unidade de Responsabilidade Social Lucinha Araújo, com o perfil de crianças e pré-adolescentes de 07 a 12 anos e onde estão 14 pessoas com histórias de abandono familiar, violência doméstica, maus tratos e conflito com drogas. Ou ainda a Associação São Martinho de Vicente de Carvalho com o perfil de crianças e jovens em situação de rua e de vulnerabilidade social.

A propósito: com o aumento de pessoas em situação de rua, optamos por priorizar, nesse mesmo ano de 2018, instituições especializadas no atendimento a esse público e, assim, potencializar singularidades de cada grupo e aprender com eles valores de autoconhecimento e impulsiona autoestima em ambos. Ao levantar os dados referentes, vimos que, recentemente, cerca de 70 mil casas e apartamentos financiados foram “devolvidos” por falta de pagamento.

Em abril, a cidade do Rio de Janeiro chegou a ter mais quatro mil pessoas em situação de rua. E nos perguntamos: como aprimorar a comunicação para atender a especificidade desse grupo? Quais linguagens e materiais podem ser utilizados e/ou criados que atendam a diversidade dos públicos e promovam a acessibilidade? Como ajuda-los a gerar uma possível “tomada de consciência”? Até onde podemos intervir na realidade da vida dos desabrigados. E qual é o caminho para isso?

Sabemos que com as lições apreendidas no passado é possível construir novos modos de viver. E, se todo museu é formado por fragmentos da nossa própria existência, podemos expandir conceitos de aprendizagem de forma profunda e conectada ao aprendizado cultural e criativo que cada ser humano tem. E, em uma expectativa ideal, gerar engajamento e bem-estar, inspirando pessoas e ideias.

Por tudo isso, o nosso Programa Continuado tem investido em uma atuação pautada pela criação de contextos provocativos, de modo a constituir um ambiente coletivo de aprendizagem e que levem em consideração a participação de públicos diversos. Sempre respeitando as origens e trajetórias de cada cidadão e apostando na promoção do encontro com a arte, a tecnologia, a memória e a história que contamos em nosso Museu, a da comunicação humana. De como o homem, através dos tempos, aprendeu a se comunicar mais e melhor com o seu semelhante.

“O Oi Futuro tem experimentado uma gestão com afeto mostrando que a cultura é um direito que tem que ser garantido a todos, sobretudo, aqueles mais vulneráveis. Entender a cultura, educação, o processo de afeto como instrumento de transformação, é a libertação”. (Filipe Ubaldo – Assessor do Gabinete da Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos, parceiro do Programa Continuado do Museu das Telecomunicações).

*Museóloga no Museu das Telecomunicações.

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