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Como é o cenário atual dos negócios de impacto no Brasil?

26/12/2017

Como é o cenário atual dos negócios de impacto no Brasil?

Nunca antes na história desse país se empreendeu tanto. E o melhor, dentro desta afirmativa há uma porcentagem interessante de negócios de impacto nascendo a cada dia e chegando ao mercado com o objetivo de melhorar a sociedade de alguma forma. Mas você sabe a diferença entre um negócio de impacto e uma ONG, por exemplo? Diferentemente das ONGs e das instituições sem fins lucrativos que vivem de doações, os negócios de impacto têm em sua concepção o propósito de causar um impacto positivo em uma comunidade (seja este social, ambiental, educacional ou outro) ampliando as perspectivas de pessoas marginalizadas pela sociedade ou melhorando as condições de um setor para indivíduos desfavorecidos, mas com a possibilidade de haver investimento externo e sendo autossustentável. Esta é a base da definição de um negócio social.

Outra questão interessante sobre os negócios de impacto é que há duas correntes divergentes em relação a distribuição de lucros gerados pela operação. A primeira, liderada pelo economista nascido em Bangladesh, fundador do Grameen Bank e ganhador do prêmio Nobel da Paz em 2006, Muhammad Yunus, defende que os investidores em negócios sociais só podem recuperar o capital investido, sem direito a lucro e dividendos. Segundo Yunus, o lucro deve ser totalmente reinvestido na empresa e destinado à ampliação dos benefícios socioambientais. Outra corrente mais ampla representada pelos americanos Stuart Hart e Michael Chu, professores estudiosos do tema das Universidades de Cornell e Harvard, nos Estados Unidos, defende a distribuição de lucro por entender que isso possibilita atrair mais investidores e permite a criação de novos negócios na velocidade necessária para superar os desafios sociais existentes no mundo. Ambas as argumentações têm pontos-de-vista interessantes, certo?

E agora que você já entendeu o que são os negócios de impacto, que tal conhecer as características principais deste cenário? Usaremos como base o 1º Mapeamento de Negócios de Impacto no Brasil, realizado pela Pipe.Social, uma plataforma de conexões para fomentar o ecossistema de negócios de impacto no Brasil. Durante três meses, eles articularam cerca de 40 organizações do ecossistema de impacto do Brasil que somaram esforços para entender melhor o pipeline atual e as demandas e oportunidades dos negócios nos diferentes estágios de maturação. Com a iniciativa de 579 empreendedores, que preencheram corretamente o cadastro da plataforma, eles conseguiram analisar dados e expectativas e devolver para o mercado informações cruciais para entender o perfil de quem está por trás dos negócios sociais no Brasil hoje.

Entre os diversos dados reveladores que o estudo apresentou, alguns merecem destaque: só 20% dos negócios de impacto têm mulheres como fundadoras contra 58% com homens como fundadores; 63% dos negócios sociais estão no Sudeste 40% dos negócios sociais têm menos de 3 anos de fundação. Além disso, ao responderem a pergunta “Qual o seu negócio resolve no mundo? ”, os empreendedores revelaram que suas principais áreas de impacto são Educação (38%), Tecnologias Verdes (23%), Cidadania (12%), Saúde (10%, Finanças Sociais (9%) e Cidades (8%). O mapeamento revela ainda que 79% dos entrevistados estão captando investimento e 35% ainda não faturaram, entre outros diversos dados. “O estudo é extenso e conclui diversas questões desse cenário, mas de um modo geral, como principais insights eu destacaria a falta de investidor e crédito para este segmento, o fato de que esse mercado ainda é muito novo e por isso ele ainda não tem escala de resultados para inspirar mais investidores e a questão de gênero que expõe uma baixa representatividade das mulheres”, comenta Anna Carolina Aranha, co-fundadora da Pipe.Social.

Outra questão recorrente no cenário de negócios sociais é a dúvida com relação à natureza jurídica da composição das empresas. Não existe hoje no Brasil uma figura jurídica intitulada “negócios sociais”, por isso, muitas vezes, os empreendedores que querem de alguma maneira trabalhar com impacto social buscam formalizar a sua empresa de maneira a constituir uma sociedade limitada. Ainda não há uma legislação específica para este segmento e por isso os primeiros momentos do nascimento de uma startup de negócios sociais podem gerar muitas dúvidas. “Outra dúvida acaba sendo em relação ao dinheiro. O empreendedor fica em dúvida se quer receber investimentos, caso sim, como será a participação deste investidor, ou se a base da empresa será feita através de doações”, explica Juliana Ramalho, advogada do escritório de direito Mattos Filho.

Apesar das dúvidas e questionamentos comuns a um segmento que está começando a crescer, há também a evolução natural da forma de fazer negócio no Brasil que está procurando se adaptar a esta demanda de empreendedores e, lentamente, criando um cenário mais propício aos investidores.

Por exemplo, em julho desse ano a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) regulamentou o crowdfunding de investimento (ou equity crowdfunding) que permite a captação pública de até R$ 5 milhões por empreendedores. Na prática isto significa que enquanto um crowdfunding tradicional oferece como recompensas para as doações feitas produtos e ou serviços, no caso do equity crowdfunding, você recebe um pedaço da empresa para a qual está “doando”, ou no caso, contribuindo. Ou seja, no lugar de contribuir para receber algum produto ou serviço, você recebe “ações” da empresa. “A evolução desses meios de investimentos e pagamentos vai permitir que surjam mais empresas desse tipo. Melhor do que colocar em um fundo CDI onde alguém teria 0,5, em média, de rendimento, a Geração Y está interessada em investir em empresas que tenham um legado social, e é aí que os negócios sociais podem ser beneficiados”, comenta Eduardo Magalhães, analista de Negócios de Impacto Social do SEBRAE-RJ.

 

CONHEÇA – Em julho desse ano, o instituto Oi Futuro lançou o Labora, um laboratório de inovação social para buscar soluções inovadoras e de impacto para as cidades e a gestão cultural, confira detalhes sobre os cinco projetos inicialmente incubados!

 

Foto: PA Intelligence

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